Quem disse que já não havia originalidade nas formas de luta?
Propina paga com sete mil moedas
2007/05/22 11:29 Marta Sofia Ferreira
Aluna pagou prestação de 175 euros com moedas de 1, 2 e 5 cêntimos. Em protesto contra «falta de igualdade de oportunidades» no Ensino Superior. Associação de Estudantes prometeu apoio mas depois não apareceu. «Não me chateou nada contar dinheiro», diz tesoureiro
Ângela Reis, aluna do 4º ano do curso de Animação Sociocultural na Escola Superior de Educação de Beja, chegou na passada segunda-feira à tesouraria da escola e entregou cerca de sete mil moedas de 1, 2 e 5 cêntimos. No total, foram 175 euros. O valor correspondente a uma prestação da propina.
Foi esta a forma que a estudante encontrou para protestar contra o facto de «uma pessoa ter de despender cada vez mais dinheiro para poder frequentar o ensino superior», disse ao PortugalDiário.
«Acho imoral o Estado não lutar pela igualdade de oportunidades, isto porque com as propinas só pode estudar quem tiver posses para tal», explica a aluna. A ideia do protesto surgiu em Maio de 2004 e desde então começou a «juntar aquelas moedinhas que acabam por incomodar dentro de um bolso ou da carteira, pois não servem para quase nada».
Associação de Estudantes prometeu apoio e não apareceu
Já tinha conseguido juntar muitas moedas quando no início do actual ano lectivo se dirigiu à Associação de Estudantes da Escola Superior de Educação de Beja, para «saber qual era a sua disponibilidade e interesse em cooperar nesta acção de protesto contra as propinas e de luta pela igualdade de oportunidades dos estudantes».
«Desde logo foram acessíveis e mostraram-se interessados na ideia», conta Ângela Reis. «Até falaram em enviar comunicados de imprensa». No entanto, depois de marcar com o presidente da associação o dia para realizar o protesto, acabou por se ver sozinha quando se dirigiu à tesouraria para entregar as cerca de sete mil moedas.
«Não apareceu ninguém da Associação de Estudantes e nem se deram ao trabalho de me dizer nada», conta a estudante ao PortugalDiário. «Esta atitude faz-me pensar e perguntar se para eles já não interessa o meu voto porque é último ano que frequento a escola ou, mais grave ainda, se deixaram de se interessar pelas lutas e direitos dos alunos que dizem representar. Pensava eu que a função da associação era apoiar os alunos e incentivar este tipo de iniciativas. Ignorância e ingenuidade minha...».
«Não me chateou nada. É dinheiro, tenho de aceitar.»
Mas Ângela não desistiu do seu propósito: entregou as cerca de sete mil moedas de 1, 2 e 5 cêntimos, cujo total equivalia a uma prestação da propina: 175 euros. «No início pensei que ia conseguir pagar totalmente a propina, mas depois apercebi-me que só ia conseguir pagar uma prestação», conta.
Ao tesoureiro da escola, João Parente, a aluna agradece «a paciência ao contar as moedas». «Não me chateou nada. É dinheiro, tenho de aceitar. É o que estou aqui para fazer», disse ao PortugalDiário o tesoureiro, acrescentando que compreende «o que ela quis fazer com este protesto».
«Existem muitas maneiras de lutar, basta ter força de vontade»
«Com este protesto espero sensibilizar e incentivar outros alunos à luta por aquilo a que temos direito. Foram dois anos e cerca de 7000 moedas. Como podem ver, existem muitas maneiras de lutar, basta ter força de vontade e usar a imaginação», diz a estudante.
Vários colegas de Ângela contribuíram para este protesto: «Davam-me os cêntimos que tinham nos bolsos e na carteira. Ficaram sensibilizados e solidários com o protesto». Agora, «vamos ver o efeito que tive nos outros», conclui a aluna.
O PortugalDiário tentou falar com o conselho directivo da Escola Superior de Educação de Beja, mas até ao momento da publicação da notícia não conseguiu resposta.
http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?div_id=291&id=811671
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Também os estudantes da ESEC, protestaram há pouco tempo contra as propinas e o novo RJIES fazendo um cordão humano:
12-06-2007Patrícia Cruz Almeida
PROTESTO
Cordão humano (quase) circundou a ESEC
Estudantes da Escola Superior de Educação (ESEC) voltaram a protestar contra as medidas anunciadas para o ensino superior. Ontem, cerca de 350 alunos formaram um cordão humano frente à escola.
Durante cerca de 30 minutos, o cordão humano rodeou a escola, mas acabaria por falhar "por pouco" a intenção de envolver todo o quarteirão. Mesmo assim, o objectivo foi cumprido. "Participaram cerca de 350 alunos. Penso que é um número muito bom, numa altura em que muita gente está em exames ou em estágio", disse aos jornalistas Laurindo Filho, presidente da associação de estudantes (AE) da ESEC.
Na base do protesto dos alunos está a intenção do Instituto Politécnico de Coimbra (IPC) de estabelecer uma propina única de 750 euros para todas as unidades orgânicas no próximo ano, e de aumentar esse valor para o montante máximo de 850 euros, em 2009. Até agora, recorde-se, o montante do valor das propinas é variável nas seis escolas do IPC, sendo que os 1.749 alunos da ESEC pagam 650 euros de propina anual.
A decisão do IPC em aumentar as propinas foi anunciada em Abril, mas há cerca de uma semana o Conselho Geral "chumbou" a intenção de estabelecer uma propina igual para todas as unidades orgânicas. Tratou-se, porém, de um parecer meramente vinculativo. A decisão final cabe agora ao Conselho de Gestão do IPC.
A acção de ontem serviu também para protestar contra a proposta de lei do Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior, aprovada há cerca de um mês pelo Conselho de Ministros. De acordo com Laurindo Filho, o diploma – que agora vai ser submetido à apreciação da Assembleia da República – "retira aos alunos a participação nos órgãos da escola".
Num parecer divulgado no final do mês passado, a Associação de Estudantes da ESEC manifestava o seu "repúdio e a sua insatisfação perante a perda constante (e irreversível) de voz dentro das instituições". "Concentrar todo o poder de um Conselho Directivo numa só pessoa é potenciar ditaduras (não nos referimos especificamente no caso da ESEC). Talvez estejam habituados a isso no Governo ou nos partidos políticos, mas não é assim que se gerem bens e/ou pessoas. E não será assim que as instituições poderão evoluir para um modelo de gestão mais justo e funcional em termos de gestão", podia ler-se no documento subscrito pelo dirigente da associação estudantil.
Ontem, em declarações aos jornalistas, Laurindo Filho referiu-se ao novo regime jurídico como sendo um "autêntico atentado à democracia".
Estudantes não excluem encerramento
Caso o Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior seja aprovado – e caso seja concretizada a intenção de aumentar as propinas –, os alunos garantem que não vão baixar os braços. O presidente da AE/ESEC, aliás, não exclui novas formas de luta que podem passar, por exemplo, pelo encerramento das instalações da escola. Uma decisão que terá que ser discutida em reunião geral de alunos.
Além do cordão humano, os estudantes da Escola Superior de Educação colocaram faixas negras em redor do estabelecimento de ensino – em luto académico simbólico – e fizeram circular um abaixo-assinado contra o aumento das propinas que conta já com cerca de "um milhar de assinaturas recolhidas", adiantou Laurindo Filho.
http://www.asbeiras.pt/index2.php?area=coimbra&numero=44628&ed=13062007
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